terça-feira, 22 de março de 2011

O Código do Idoso e os oportunistas.

Há mais de meio século, o Barão de Itararé já dizia: “Há indivíduos que só confessam a idade que têm para ficarem bem colocados nos banquetes”. Certo! O costume ainda persiste, só que agora o objetivo da confissão é mais para usarem as vantagens que o Código do Idoso faculta-lhes, principalmente o avanço de fila. Acho muito certo, pois a criança e o idoso, que são os dois extremos da vida, merecem toda proteção. O respeito a esses dois extremos teria que ser espontâneo, mas já que não é tem que haver uma lei obrigando. O público alvo do tal código deve usá-lo sempre que necessário, porém criteriosamente e, de preferência, sem prejudicar muito quem for preterido.

Entretanto, o ato sistemático de furar fila não é muito bem visto pelos preteridos. Normalmente, a pessoa idosa é aposentada e quase sempre tem tempo disponível. Como lhes é de direito, costumam furar filas para logo em seguida ficarem a toa, nas esquinas, jogando conversa fora. Outros, ironicamente, até zombam de quem permanece muito tempo na fila. Alguns idosos são até empregados ou recebem remuneração de empresas, e mesmo de pessoas, exclusivamente para furar filas, ao passo que outras pessoas que se postam numa fila são trabalhadores, estudantes, donas de casa ou qualquer outro tipo de pessoa sujeita a horários e com o tempo rigorosamente distribuído.

Sempre vejo fatos semelhantes em minhas estadas nas filas de bancos, casas lotéricas e supermercados. Se eu continuar pensando da forma que penso, vou evitar avançar uma fila, pelo menos enquanto eu tiver saúde para enfrentá-la. Quanto ao tempo disponível, provavelmente o terei muito mais do que muitos fileiros habituais. Enquanto eu tiver disposição física, tentarei não furar fila, mesmo que tenha 500 anos de idade. Até mesmo para não irritar quem já está há mais tempo nela. Também, não acho justo preterir quem tem menos tempo disponível. Já vi gente avançar fila, depois sair numa boa e ir jogar sinuca, baralho ou em animadas conversas de rua.

Embora se trate de um direito prescrito em lei, o beneficiário não é obrigado a utilizá-lo. Os deveres legais somos obrigados a cumprir, porém os direitos são facultativos. Podem ou não ser usados de acordo com a consciência do seu detentor. Não sendo necessário, para que usar? Ainda mais um direito, cuja utilização, vez ou outra, está preterindo e irritando outras pessoas. É duro estar numa fila demorada e vê-la sendo furada por outro sujeito, o qual tem mais tempo disponível, e ainda por cima sendo sadio e esperto, não obstante sua idade já lhe permite tal procedimento. Tenho o maior respeito pelos idosos, meus futuros colegas, motivo pelo qual me refiro apenas às exceções abusivas.

Todo mundo sabe que é permitido ao idoso, ao deficiente, às gestantes e a quem carrega criança de colo, avançar uma fila apenas para resolver assuntos pessoais e familiares, e não para executar tarefa remunerada ou quebrar o galho de algum espertinho apressado, que não raro está utilizando um usuário preferencial, um idoso principalmente, para efetuar uma bela furada na fila. Eu já presenciei, no banco, uma única criança sendo usada por duas pessoas diferentes para furar fila. Quanto à gestante, a mulher imagina que se engravidou ontem, hoje já quer furar fila. Assim não dá! Reclamações sobre os excessos e abusos sempre há, mas os gerentes dos estabelecimentos alegam que nada podem fazer. “Dura lex, sede lex.”

3 comentários:

  1. É Patativa!Concordo com você em gênero ,número e grau.A situação é difícil.Um dia desses,aguardando para ser atendida em um banco presenciei um moço quase passando mal,já que este estava em seu horário de almoço e não parava de chegar pessoas que tinham a preferência.Assim vou aguardando minha vez e aos 60 usarei meu bom senso,com uma boa dose de desconfiômetro!!!!!!

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  2. O pior é que eles acham que o direito é somente deles.

    Meses atrás minha esposa, filha (na época não tinha nem um ano) e eu estávámos na fila preferencial de um supermercado, na nossa frente tinha mais um casal com uma criança de colo e no caixa, sendo atendida, uma jovem gestante, já com seus sete meses de gestação acredito...

    Por bem que me aparece um casal de velhinhos, abaixam a cabeça como se touros fossem e começam a passar na nossa frente colocando as compras em cima do balcão. Em uma outra situação eu nem ligaria em deixar que eles fossem atendidos prioritariamente, porém a rispidez nas atitudes foi tanta que eu e o outro homem do casal a frente tivemos de intervir e alertar ao senhorinho que a mesma preferência que ele tinha nós também tinhamos e que não há prioridades entre as prioridades.

    Somente pra ilustrar, mais um caso...

    Na fila de compra de ingressos na sede do Cruzeiro, somente é permitido a venda de dois ingressos (salvo engano) por idoso, pois já virou profissão, eles ficam por lá e cobram de 5 a 10 reais para comprar o ingresso pra vc.

    Isso é difícil de ser fiscalizado (ou melhor, quase impossível).

    O que falta no brasileiro, e dizendo assim acabo por me incluir, é empatia, é se colocar no lugar de quem está sendo prejudicado com a nossa "esperteza".

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  3. Que ótimo ter encontrado reforço tão consistente, através de comentários sensatos e pertinentes, sobre um assunto bastante melindroso e polêmico. Confesso que não esperava tanto. Já estava até me armando para me defender das pedradas que os hipócritas poderiam atirar. É gratificante saber que não estou me dirigindo a pessoas confusas e fingidas, que ousam negar a verdade só para parecerem boazinhas. Também já fui testemunha e vítima de abusos de clientes preferenciais em algumas oportunidades.
    Tempos atrás eu estava na fila de um banco já havia 40 minutos, pois era um dia muito tumultuado. Eis que aparece um desses preferenciais, sadio, enxuto e sacudido. Furou a fila, na moral, com ar de vitorioso e foi embora. Quando sai do banco, 22 minutos depois, o furão estava no bar próximo ao banco, jogando sinuca e bebendo cerveja. Eu vi porque passei no bar para comprar água, às 11h30min. Eu fiquei mais emputecido porque a fila estava cheia de gente ocupada, sem tempo para perder.
    São as leis esdrúxulas que os governantes fazem para passar mel na boca das pessoas, para elas esqueceram as cachorradas que eles fazem pensarem que eles são muito bonzinhos.
    Agradeço muito aos comentaristas e confirmo que vale a pena escrever para leitores sensatos que, não obstante a singela dos escritos, conseguem encontrar algo aproveitável. Obrigado a todos.

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