sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A FOME E A GREVE.


Sinceramente, tenho muita pena de quem sofre o flagelo da fome. Já passei por isso e sei como é duro não ter o que comer já logo pela manhã. É uma situação muito triste, que costuma levar a pessoa ao desespero, até fazendo-a desviar do caminho do bem. Tem que ter linhagem decente para não ser pervertido pela necessidade de conseguir alimento. A fome costuma ser a porta de entrada para o delito.
Compadeço tanto das pessoas famintas que nunca deixei de socorrer algumas que encontrei na estrada da vida. Na verdade, não fiz nada mais do que o meu dever. Não fiz nenhum favor a ninguém. O maior favorecido fui eu mesmo, pela graça que Deus me deu de estar socorrendo, e não sendo socorrido. É um raciocínio muito simples. Não tem segredo nenhum; qualquer um chega a essa conclusão.
Porém, quanto à greve de fome tenho dupla visão a respeito. Quando ela é justa, penso que quem tem o poder de evitá-la deve fazer o máximo para que tal suplício não aconteça. Quando o grevista está reivindicando uma medida justa, que trará benefícios numa ponta sem prejudicar a outra ponta, eu penso que nada deveria impedir o atendimento dos seus objetivos, visto que a fome é um martírio muito grande, principalmente quando não se tem o que comer.
Quando se tem o alimento, a história é bem diferente. Quanto a ter ou não ter o que comer, tem gente que diz assim: “Ah, eu prefiro ter fome e não ter o que comer a ter o que comer e não ter fome”! Nossa, que bobagem! Que maluquice!  Que tremendo mau gosto! Que o digam os que já passaram fome por um ou outro motivo. Qualquer motivo é doloroso, mas por não poder possuir o alimento é muito mais.
Assim, a própria greve de fome já é uma loucura. O grevista é o seu próprio algoz. Quanto a ter ou não o alimento, não obstante a insignificância da minha opinião, eu já penso o contrário. Sem sombra de dúvida, eu prefiro ter o que comer e não ter fome, pois a hora que eu tiver fome, a comida está aí. O caro leitor já pensou em estar com fome e ainda ter que conseguir comida?! Eu, hein! 
Alimentar-se, comer, ou encher a pança, além de ser uma atividade essencial à sobrevivência, é um dos bons prazeres da vida. As pessoas que não praticam esta atividade por escassez de recursos são dignas de piedade. Agora, quando a greve de fome é por motivo banal, pessoal ou pirraça, eu penso que o grevista devia ser deixado à vontade, a mercê de sua sorte. Quer ser o carrasco de si, que o seja!
Estou ciente de que este assunto não interessa a ninguém, mas já que vez ou outra alguma mídia o traz à tona, lembrei-me de um amigo que está fazendo grave de fome em protesto à greve de sexo que sua mulher está lhe fazendo. Segundo ele, ela está agindo assim em protesto a um suposto escorregão que ele teria dado. Ele jura que não, mas ela não acredita. Segundo ele, a greve é a única forma de fazê-la acreditar.
O meu amigo já emagreceu bastante; está tão magro que está com receio de ficar exposto ao vento. Já avisei a ele dos riscos que está correndo, mas ele disse que quer dar um susto na mulher. Só que o susto pode ser bem grande, podendo até transformar-se num velório. A fome quando não mata, no mínimo ela faz o indivíduo descobrir ou confirmar, de uma maneira muito dolorosa, que o mundo gira.
No entanto, nos últimos dias, o grevista citado acima deu uma boa arribada.  Parece que ele encerrou a greve em casa ou está comendo fora. Quanto a ela, a esposa, pelo tecido adiposo adquirido neste meio tempo, parece que comeu o dobro, além de...... Bem, deixa pra lá!  Como já dizia o meu grande amigo Godofredo: “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.  Agora, quanto à fome, exorto-os a ajudarem matá-la sempre que ela mostrar sua cara medonha. Matar a fome alheia, de quem não dispõe de armas para matá-la, não é crime; é uma benção divina!