QUALQUER PESSOA que observar com um pouco de atenção vai perceber que o comércio de drogas e de outras substâncias entorpecentes ilícitas segue praticamente a mesma linha de raciocínio seguida pelo comércio de outros produtos legais e necessários às pessoas de uma forma geral, como comida, roupa, remédio, eticétera e eticétera. Assim, tal comércio também obedece à lei universal da economia que traça o paralelo entre a oferta e a procura, bem como estabelece a proporcionalidade vendedor/consumidor. Se há grande oferta de produtos no mercado, o preço tende a baixar, ou vice-versa; como também, se há muitos compradores, a tendência é aumentar o numero de vendedores. É exatamente isto o que está ocorrendo com o maldito comércio de drogas, a cada dia mais intenso e mais frenético.
BASEADA neste princípio, a pessoa, observadora e atenta, apura que o procedimento normal e rotineiro de compradores e vendedores decorre de circunstâncias específicas e inerentes ao produto comercializado. Por exemplo: durante um período em que esteja fazendo frio, o prezado leitor não encontra vendedores de sorvetes, picolés e outras delícias geladas. Da mesma forma, durantes as estações quentes do ano, não é fácil encontrar alguém querendo comprar cobertores e outros agasalhos para o frio. Guarda-chuva em tempo seco, então, ninguém se lembra de adquirir. Só quando a chuva despenca é que o ensopado cidadão se lembra do apetrecho de cor preta. Portanto, olha o comprador aí fazendo o seu papel, fundamental, de incentivador da atividade comercial.
ANALISANDO essas observações, a gente fica matutando sobre o intenso comércio de drogas, conforme infelizmente está acontecendo no país inteiro, ou no mundo inteiro, mas o que nos interessa primeiramente é o que está acontecendo aqui no Brasil. O pior é que, como parte do Brasil, nossa cidade está seguindo a regra, não obstante a polícia esteja trabalhando para combater esse inferno que se instalou aqui, para a desgraça de nossos jovens e destruição de nossas famílias. Ninguém pode negar que nossas autoridades têm se esmerado para combater esse crime, apesar das deficiências da lei. O resultado tem sido satisfatório, mas aparecem outros e mais outros vendedores substituindo aqueles que foram retirados de circulação, seguindo uma macabra progressão quase que geométrica.
ASSIM SENDO, depois de meditar sobre o assunto, cheguei a uma triste conclusão, embora possa ser só minha e, por isso mesmo, pode ser rechaçada e combatida. De acordo com minha modesta capacidade de análise, concluí que a lei é a culpada da disseminação do uso de drogas. Observem que depois que passaram a não punir o usuário, o consumo aumentou assustadoramente. Quem tinha tendência a usar drogas e não o fazia por medo da lei passou a fazê-lo, na certeza de não sofrer nenhuma punição, a não ser apenas uma carraspana oriunda de alguma autoridade competente. Principalmente tratando-se de menores de idade, os quais têm direito de mais e deveres de menos. Estes é que não estão nem aí para as admoestações, as quais entram por um ouvido e saem pelo outro!
CONSIDERANDO QUE escaramuça, lição de moral ou lavagem de língua, como se diz por aí, não dói e não tira pedaço, conforme eles mesmos dizem, este procedimento adianta muito pouco ou nada contra o usuário de drogas, uma vez que nessa situação ele perde a individualidade, a honra e a vergonha. Haja vista os vexames que os usuários dão e as barbaridades cometidas por eles para terem acesso às drogas, o que vem provar que eles perdem totalmente a noção do bom senso, da legalidade e tudo o que têm de moral, bons costumes e princípios religiosos. Eu já ouvi um toxicômano dizendo, no mais descarado deboche, que tem medo do homem da pá (o coveiro) e não tem medo do homem de preto (ou da toga, o juiz). Se a lei fosse mais dura, esse sarcasmo não existiria.
COMO O NÚMERO de vendedores aumentou muito por causa da quantidade de compradores, ratifico que a lei é a maior culpada por essa tragédia. Se não voltarem a punir o usuário, a tendência é a situação piorar dia a dia. Por conseguinte, o número de traficantes aumenta na mesma ou maior proporção. Como não é fácil pegar o traficante, a solução seria retirar o consumidor de circulação, detendo-o numa prisão decente, sob a proteção de um Juiz, por um período suficiente até para a sua desintoxicação. Esta medida serviria de alerta para quem ainda têm medo da justiça. Aumentar-se-ia também o rigor das penas aplicadas aos traficantes vendedores, os quais deviam, sim, cumpri-las, com o mínimo de direitos. Não havendo vendedor e comprador, consequentemente não haverá o produtor. Não havendo produtor, não haverá o produto. Demora muito, mas pode dar certo. Antes tarde do que nunca. Até agora, a única lei que o tráfico obedece é a Lei da Oferta e da Procura.
É CLARO QUE a punição aos usuários deveria ser rigorosa, para servir de exemplo e cortar o mal pela raiz, porém sem violência e desumanidade, até porque, salvo exceções, o usuário não deixa de ser um infeliz, uma vítima, às vezes até inocente, da ganância e da perversidade dos traficantes. As exceções são aqueles que entram porque querem, porque são aventureiros, e não possuem limites. A estes a lei deveria tratar com mais rigor, aplicando-lhes um castigo maior, baseado na substância das provas. No mundo de hoje, qualquer motivo, por mais banal que seja, serve para incentivar o indivíduo, insatisfeito não se sabe por que, a enveredar pelo enganoso caminho das drogas. Os mais audaciosos entram nele direto como traficantes, muitas das vezes até para sustentar seu vício. Não se pode negar também que um ou outro já entra no ramo por falta de oportunidade e emprego decente.
POR CAUSA da fraqueza da lei, o tabu do uso de drogas foi muito mais flexibilizado e banalizado do que o tabu do sexo. Este último que é legal e saudável ainda é praticado às escondidas, enquanto aquele que é proibido está sendo praticado abertamente, à luz do dia, na maior cara dura, afrontado a lei e as pessoas decentes. O pior é que existem pessoas importantes no nosso país, entre elas um ex-presidente da república, querendo descriminalizar mais ainda o uso de drogas alucinógenas, notadamente o uso da maconha. O mais grave é que vão acabar conseguindo, tal é o interesse pessoal de alguns congressistas. Será que essa gente não sabe que, na verdade, já temos problemas terríveis com o uso exagerado de bebidas alcoólicas, cujo consumo não é ilegal? Não precisamos da legalização de mais nenhuma desgraça.
PARA CONTRARIAR, alguém poderá dizer assim: Ah! mas há policiais corruptos que fornecem drogas aos presos, além de parentes dos presos que fazem o mesmo serviço. Sim, pode até haver policiais que agem assim, mas temos que pensar na maioria absoluta que é gente honesta e não fornece nenhum produto ilegal aos presos. Os agentes espúrios irão sendo identificados por quem de direito e excluídos do meio. Penso que não há outra solução a não ser tirar o comprador de circulação através de medidas coercitivas mais rigorosas, as quais inibirão a entrada de novos consumidores no mercado. Se o futuro usuário tiver consciência de que há uma lei rigorosa para puni-lo, com certeza ele pensará duas vezes antes de dar a primeira baforada e entrar pelo tenebroso caminho sem volta das drogas.
EMBORA SABENDO que este texto não vai ter nenhum efeito, resolvi escrevê-lo para mim mesmo, ou para alguém que possa ver alguma utilidade nele. Assim, redigo-o também por que tenho ouvido de alguns pais a afirmação de que preferem ver seus filhos presos ou, na pior das hipóteses, mortos, a vê-los se destruindo no inferno das drogas. O pior é que não destroem só a si, como também a todos os familiares que lhes amam. Pouca coisa pode ser pior do que um pai e uma mãe amorosos verem um filho do seu coração se destruindo e cometendo desatinos contra as outras pessoas. Tenho amigos que convivem com essa negra situação e não têm nem mais um minuto de paz. É um suplício; é um gigantesco sofrimento. Parece que eles foram vivos para o inferno, ou o inferno veio até eles. DECIDIDAMENTE NINGUÉM MERECE!