Ao contrário de muitos, pratico sempre o ato de cumprimentar todas as pessoas com quem encontro em minhas movimentações diárias. Desde muito jovem adquiri este habito e não o abandonei até hoje. É um costume salutar, social, cordial e cristão. Não custa nada e a gente costuma ficar simpático aos olhos de quem dedicamos esta simples atenção. Mesmo porque numa cidade do tamanho da nossa, onde muita gente ainda se conhece, não é de bom alvitre passar perto das pessoas sem saudá-las, porque pode pegar mal e a gente acaba sendo rotulado de antipático, metido, nojento, e outros adjetivos genéricos. Em cidade pequena, todo deslize é castigado.
No entanto, está desanimador preservar esse hábito, porque está dando para perceber que as pessoas de hoje não ligam muito para isso, chegando até a fingir que não enxergam o passante, simplesmente para não serem saudadas e não terem o “sacrifício” do retorno. Não se sabe se é descaso com os outros ou se é preguiça de abrir a boca. Alguns evitam saudações por timidez; outros já é mesmo por arrogância, ignorância e falta de educação. É fato que ninguém é obrigado a ficar cumprimentando as pessoas na rua, mas esta atitude é uma forma barata e educada de valorizar as pessoas com as quais encontramos no dia-a-dia. Eu penso assim.
No caso das mulheres, até dá pra entender essa atitude e não criticá-las por isso. A maioria age dessa forma mais por recato ou precaução, dada a atração que exercem sobre os homens e a outros fatores criados pelo Adão. Além disso, há muito homem malicioso, devasso e oportunista, que pode entender, por conveniência, uma gentil saudação feminina como uma abertura, e fazer deste gesto uma chance para uma libidinosa cantada. Quanto aos homens que evitam uma saudação, excetuando os tímidos, parece mais uma imbecilidade, uma grosseria. Parece também uma falta de religiosidade, uma vez que um simples cumprimento pode levantar o ânimo de alguém que esteja vivendo algum problema pessoal.
Não obstante eu esteja sendo desestimulado pelo descaso, às vezes involuntário, das próprias pessoas, estou tentando não perder o hábito de saudá-las, uma vez que se trata de uma atitude salutar e inerente ao relacionamento humano. Também porque ainda tenho encontrado algumas pessoas receptivas e atenciosas. Nem todas são refratárias e indiferentes aos seus semelhantes. Muitas são atenciosas, humildes e gentis, que não merecem ser incluídas no rol das antipáticas ou indiferentes. Sabe-se também que todo mundo está com medo de todo mundo, devido à onda crescente de violência. Todavia, uma gentil saudação entre pessoas normais e presumivelmente conhecidas não representa nenhum perigo.
Conforme foi dito logo acima, cumprimentar as pessoas não representa nenhum perigo. Este procedimento não tem contra-indicação, não provoca efeito colateral negativo e não engorda. Também não causa ruga e nem queda de cabelo; não provoca reação alérgica e nem choque anafilático. O que pode provocar, e com bastante freqüência, é um choque afetivo no coração de quem está sendo cumprimentado e que não esperava por aquela atitude, dada à indiferença habitual, talvez involuntária, das pessoas, principalmente quando o saudado é pobre, humilde, insignificante ou de aparência rude e desajeitada. Cumprimentar gente rica, bonita e importante é um prazer. Todo mundo gosta!
É motivo de desapontamento quando se saúda um grupo de pessoas e ninguém responde. Neste caso, eu costumo falar, por exemplo, “bom dia, gente!” Penso eu que quem for gente, responde. Mesmo assim, ainda há pessoas que nem ligam. Ou estão distraídas, ou estão absorvidas em preocupações cotidianas, ou não são gente. Pessoas também educadas com quem convivo já comentarem isso comigo, alegando estarem percebendo esta mania condenável que as pessoas estão adquirindo. Talvez nem sempre por culpa delas, mas das mudanças no comportamento de outras pessoas que desaprenderam, ou nuca souberam, viver em sociedade decente.
Como costumo ser juiz de mim mesmo, procuro os motivos em minha pessoa, mas não os tenho encontrado. Acredito que eu não tenha mudado meu comportamento a ponto desagradar muitas pessoas ao mesmo tempo! Como não sou apenas eu que percebeu esse procedimento, vejo-me no direito de pensar que continuo o mesmo. Então, fica uma indagação: caso eu tivesse adquirido um mau hábito desde a tenra idade, será que apareceria tanta gente para incentivar a me libertar dele? Será que eu teria motivos parecidos para desapegar do hábito nocivo? Sei não, viu! Do jeito que os conceitos mudaram; do jeito que as pessoas estão introvertidas e temerosas, até ser gentil, educado e cristão está a cada dia mais difícil.
Realmente está cada vez mais difícil arrancar das pessoas gestos de gentileza. Parece ter caído de moda. Mas como toda moda vai e volta, quem sabe reviveremos dias em que desejar 'bom dia' e 'conversar'(ninguém tem tempo para isso hoje) façam parte da nossa realidade.
ResponderExcluirLaura, muito obrigado. Seu comentário valorizou meu modesto texto. Pode crer!
ResponderExcluirUm abraço e ótima semana.