Domingo passado, ao chegar à casa de um amigo o encontrei chupando mangas. Felizmente não era o cão, era um amigo mesmo. Ao ver-me, gentilmente ele disse assim:
- Ô criatura, vamos comer manga? Vamos?
Eu achei estranho o verbo usado por ele e respondi questionando.
– Comer, ou chupar?
Rapidamente ele respondeu:
- Comer, porque eu estou cortando as mangas com a faca. Então, estou comendo manga e não chupando.
Diante desta resposta, não tive como não concordar com ele, o que me fez aceitar o argumento e pensar sobre a idiotice que ora escrevo abaixo.
O ato de ingerir os alimentos, ou seja, manda-los para o estômago, possui alguns verbos que o especifica, dependendo da natureza e o estado dos alimentos. O estado a que me refiro é a condição em que o alimento se encontra, ou seja, sólido, liquido e gasoso. O gasoso podemos abandonar porque até o presente momento não se tem notícia de alguém que tenha comido ar ou vento. Mas, pode até ocorrer, pois não dizem que fulano vive de brisa? Pois, então! Entretanto, fiquemos apenas com o líquido e sólido, que são as duas únicas formas em que os alimentos são encontrados.
Então, se o alimento é líquido a gente diz beber ou tomar. Exemplo, tomar um copo de leite, tomar um iogurte, tomar uma sopa, etc. Todavia, tomar um ônibus não é forma de alimentação. Tomar atitude também não é. Sendo sólido o alimento, a gente já diz simplesmente comer. Exemplo, comer um frango, comer arroz, comer churrasco, etc. Outros, utilizando toda a frescura a que têm direito, já dizem degustar, deglutir, saborear e outros verbos da mesma natureza. Entretanto, o verbo não importa, mas, sim, a delícia de executar a atividade chamada popularmente comer.
No entanto, há alguns alimentos, frutas, por exemplo, com os quais a gente usa um outro verbo para configurar sua ingestão, dependendo da forma de ingeri-los. Há algumas frutas que o consumidor pode usar o comer ou o chupar. Vou chupar uma manga! Depende. Se eu usar uma faca para fatiá-la antes, em vou comê-la, e não chupa-la. Quanto à jabuticaba, ao engolir o caroço também estaremos comendo-a e não chupando, mesmo não mastigando. A propósito, a jabuticaba é uma delícia, mas o caroço, quando engolido em grande quantidade, torna-se um suplicio.
O mesmo raciocínio se aplica à laranja em relação ao bagaço. Engolindo-se o bagaço, é comer, e não chupar. Se o glutão apenas sugar o caldo dela, aí já é chupar. O fato da retirada da casca não representa nada, pois quase toda fruta tem de ser descascada. O amigo leitor já pensou em comer um abacaxi com a casca? E a banana? A banana, de qualquer forma, tem que ser comida. E sem casca! Já pensou em alguém chupando banana? Que cena horrível e constrangedora! Tendo-se à mão um meio de tirar fotografia, ninguém perderia uma pose assim. Então, cada coisa no seu lugar,
No entanto, como toda regra tem exceção essas gastronômicas também possuem. Tenho um amigo que é banguela. Na arcada inferior, não lhe nasceram dentes. O leitor precisa ver a dificuldade que ele tem para mastigar alimentos sólidos. Apesar da arcada superior quase perfeita, ele não consegue mastigar, pois não tem suporte embaixo para sustentar a pressão que vem de cima. E com prótese (perereca) inferior não é fácil se acostumar. Quem já passou por isso comenta que é um tormento. Muitos desistem, preferindo ficar sem a arcada inferior. Ou fazem implantes, quando podem.
Esse meu amigo simplesmente não mastiga. Só chupa. Chupa batata-frita, chupa churrasco, chupa bife, e outras iguarias tão apetitosas e atrativas quanto. Levando tudo no bom humor, ele garante que dá para apreciar mais o sabor dos alimentos antes de engoli-los Faz bastante sentido! A propósito, segundo um admirável poeta nordestino, até a maçã, que um dia Adão comeu no Paraíso, hoje está sendo chupada, e sem nenhum constrangimento. Não é verdade que dizem por aí que “quem não tem cachorro caça com o gato?” Pois, então! Cada um usa o recurso de que dispõe na ocasião.