terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Comer ou chupar? Eis a questão!

Domingo passado, ao chegar à casa de um amigo o encontrei chupando mangas. Felizmente não era o cão, era um amigo mesmo. Ao ver-me, gentilmente ele disse assim:
 - Ô criatura, vamos comer manga? Vamos?
Eu achei estranho o verbo usado por ele e respondi questionando.
 – Comer, ou chupar?
Rapidamente ele respondeu:
 - Comer, porque eu estou cortando as mangas com a faca. Então, estou comendo manga e não chupando.
Diante desta resposta, não tive como não concordar com ele, o que me fez aceitar o argumento e pensar sobre a idiotice que ora escrevo abaixo.

O ato de ingerir os alimentos, ou seja, manda-los para o estômago, possui alguns verbos que o especifica, dependendo da natureza e o estado dos alimentos. O estado a que me refiro é a condição em que o alimento se encontra, ou seja, sólido, liquido e gasoso.  O gasoso podemos abandonar porque até o presente momento não se tem notícia de alguém que tenha comido ar ou vento. Mas, pode até ocorrer, pois não dizem que fulano vive de brisa? Pois, então! Entretanto, fiquemos apenas com o líquido e sólido, que são as duas únicas formas em que os alimentos são encontrados.

Então, se o alimento é líquido a gente diz beber ou tomar. Exemplo, tomar um copo de leite, tomar um iogurte, tomar uma sopa, etc. Todavia, tomar um ônibus não é forma de alimentação. Tomar atitude também não é. Sendo sólido o alimento, a gente já diz simplesmente comer. Exemplo, comer um frango, comer arroz, comer churrasco, etc. Outros, utilizando toda a frescura a que têm direito, já dizem degustar, deglutir, saborear e outros verbos da mesma natureza. Entretanto, o verbo não importa, mas, sim, a delícia de executar a atividade chamada popularmente comer.

No entanto, há alguns alimentos, frutas, por exemplo, com os quais a gente usa um outro verbo para configurar sua ingestão, dependendo da forma de ingeri-los. Há algumas frutas que o consumidor pode usar o comer ou o chupar.  Vou chupar uma manga! Depende. Se eu usar uma faca para fatiá-la antes, em vou comê-la, e não chupa-la. Quanto à jabuticaba, ao engolir o caroço também estaremos comendo-a e não chupando, mesmo não mastigando. A propósito, a jabuticaba é uma delícia, mas o caroço, quando engolido em grande quantidade, torna-se um suplicio.

O mesmo raciocínio se aplica à laranja em relação ao bagaço. Engolindo-se o bagaço, é comer, e não chupar. Se o glutão apenas sugar o caldo dela, aí já é chupar. O fato da retirada da casca não representa nada, pois quase toda fruta tem de ser descascada.  O amigo leitor já pensou em comer um abacaxi com a casca?  E a banana? A banana, de qualquer forma, tem que ser comida. E sem casca! Já pensou em alguém chupando banana?  Que cena horrível e constrangedora! Tendo-se à mão um meio de tirar fotografia, ninguém perderia uma pose assim. Então, cada coisa no seu lugar,

No entanto, como toda regra tem exceção essas gastronômicas também possuem.  Tenho um amigo que é banguela. Na arcada inferior, não lhe nasceram dentes. O leitor precisa ver a dificuldade que ele tem para mastigar alimentos sólidos. Apesar da arcada superior quase perfeita, ele não consegue mastigar, pois não tem suporte embaixo para sustentar a pressão que vem de cima. E com prótese (perereca) inferior não é fácil se acostumar. Quem já passou por isso comenta que é um tormento. Muitos desistem, preferindo ficar sem a arcada inferior. Ou fazem implantes, quando podem.

Esse meu amigo simplesmente não mastiga. Só chupa. Chupa batata-frita, chupa churrasco, chupa bife, e outras iguarias tão apetitosas e atrativas quanto. Levando tudo no bom humor, ele garante que dá para apreciar mais o sabor dos alimentos antes de engoli-los Faz bastante sentido! A propósito, segundo um admirável poeta nordestino, até a maçã, que um dia Adão comeu no Paraíso, hoje está sendo chupada, e sem nenhum constrangimento. Não é verdade que dizem por aí que “quem não tem cachorro caça com o gato?” Pois, então! Cada um usa o recurso de que dispõe na ocasião.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O CASAMENTO E SEUS PARADOXOS.


Perante a lei de Deus, o casamento é uma instituição sagrada. E como! Perante a lei dos homens, é uma sociedade, um negócio, onde a mulher entra com seus direitos naturais e quase mais nada, e sai com quase tudo, principalmente se o desavisado cônjuge vacilar, fazendo por merecer. O homem costuma se casar com comunhão de bens, o que é mais comum, mesmo a mulher não os tendo, pois a nossa cultura ainda conserva alguns rudimentos do sistema patriarcal, além do fato real de quase nunca um homem pobre casar-se com mulher rica. Já a mulher costuma se casar com um caminhão de bens, se o mancebo já for abastado antes do enlace. Se não for, os dois costumam fazer patrimônio juntos, mas a mulher acaba levando a melhor devido ao direito natural.
Por outro lado, é bastante comum uma mulher pobre se casar com um homem rico, principalmente se ela for bonita e desejável. De modo geral, a mulher exerce muito mais fascínio e mais atração sobre o homem, no sentido libidinoso, do que o contrário. Por causa desse importante detalhe, as mulheres mais decentes e equilibradas não deixam se levar apenas pelos dotes físicos do homem, pois que se preocupam com o lado moral, até por causa dos filhos que advirão dos dois. Então, a mulher bonita e decente tem muito mais possibilidade de escolha do que o homem. Quanto aos homens, estes se envolvem muito com os atributos físicos da mulher. Em virtude desse fato, o homem se apaixona com mais facilidade. E acaba caindo de quatro.
Considerando essa fraqueza do homem, mesmo o fato não tendo quase nada a ver com o casamento, quero acrescentar algo pertinente. Nesta minha vida, eu já vi casos noticiados e ocorridos até aqui mesmo, de homens apaixonados que deram fim a suas vidas por não conseguirem a mulher pela qual se apaixonaram. Conheci alguns casos e protagonistas também. No entanto, é raro a gente ouvir falar de uma mulher que se suicidou por causa de um homem. Por culpa de um homem pode até acontecer, eu conheço algum caso, mas por causa da paixão por ele é mais difícil. Depois, ainda dizem que a mulher é sexo frágil! Erasmo Carlos já dizia em sua música: “Dizem que mulher é sexo frágil, mas que mentira cabeluda”.
Tal como o quebra-molas, a injeção, o seguro de automóvel e outros percalços, o casamento se for um mal (fui claro?), só pode ser um mal necessário. Aliás, muito mais necessário ao homem do que á mulher, uma que vez esta é muito mais útil ao homem, do que o contrário. Vivendo só, a mulher vive muito mais bem do que homem. O homem sozinho é muito incompleto. Falta-lhe tudo, inclusive disciplina e rumo. Ele fica literalmente desarrumado. A mulher, de uma ou outra forma, cerceia a liberdade do homem, se ele for responsável e sensível aos novos deveres inerentes à vida a dois, pois que casamento também não deixa de ser sinônimo de renúncia e mudança de hábitos. Contudo, ele, o homem, acaba obtendo muitos benefícios com isso.  
A liberdade é uma situação muito boa, mas deve ser conjugada com outros fatores para que se possa ser livre e feliz ao mesmo tempo. Eu prefiro ser cativo dentro de uma casa limpa, asseada, bem cuidada por uma mulher, a ser livre, solto no mundo como cachorro que caiu do caminhão de mudança. O homem adulto sem mulher fica como um jardim sem flor; uma casa sem luz.. A bem da verdade, ele fica como uma barata dentro do galinheiro, ou seja, não sabe para onde correr. Tudo isto, sem mencionar as dúvidas maldosas que os controladores da vida alheia levantam sobre a orientação sexual do indivíduo. Porém, em casos extremos de intolerância, sozinho é melhor do que mal acompanhado.
O tempo de casamento costuma trazer alterações radicais no tratamento entre os cônjuges, caso não haja tolerância recíproca e respeito pelos efeitos da ação do tempo nas pessoas. Quando se é namorado, jovens, a mulher costuma ser tratada de gata, gazela, potranca, e outros substantivos eróticos e delicados. Com o passar do tempo, a fauna diversifica,mudando-se para anta, capivara, vaca, e outros tão depreciativos quanto. Quanto ao homem, antes tratado por tesão, gato, príncipe, meu herói, já passa a ser identificado por gambá, porco, cavalo, viado, e outros congêneres, dependendo de suas atitudes perante a cara metade, ou a metade cara, pois há metades que são caras demais para a metade mantenedora.
Como tudo nesta vida tem seus afetos e desafetos, o casamento, sendo um fato comum da vida, não foge à regra. Há pessoas que dizem que o casamento é um tambor cheio de merda com uma camada de chocolate por cima.  Neste caso, a pessoa mais cuidadosa abre o tambor no local certo, do lado do chocolate e usufrui dele por algum tempo. Porém, há pessoas mais descuidadas que se enganam ao abrir o tambor. Abrem-no pelo fundo, entrando direto na merda. Excluindo o enorme exagero, isto pode ocorrer porque muita gente, dissimulada, se revela dócil e tolerante durante as fases que antecedem o início do casamento. Depois, se mostram verdadeiros psicopatas, praticando perversidades medonhas contra o cônjuge.
Porém, há casamentos que são tambores só de chocolate. Mais nada! De qualquer lado que se abrir o tambor, é isso mesmo. Não se encontrará nada repugnante ou asqueroso. Tudo muito bom, do princípio ao fim. Aliás, tais enlaces poderiam até dispensar as testemunhas. Não dizem por aí que se casamento fosse bom, não precisava de testemunhas? Pois então! Em sendo bom o casamento, poder-se-ia, tranquilamente, dispensar as testemunhas ou padrinhos, como queiram. Estas ficariam mantidas apenas para aqueles enlaces mal arranjados, destoantes, que apresentassem algum indício de um futuro desajuste. Divagações à parte, testemunhas são importantes em quaisquer expectativas, até porque se trata de pessoas amigas.
Luiz Fernando Veríssimo, com sua versatilidade literária e bom humor, disse que o casamento é uma tragédia em dois atos: o civil e o religioso. Pode até ser, mas na minoria dos casos. Antes de ser tragédia, há fatores que podem torná-lo opções mais amenas, como drama, comédia ou em romance, que seria o mais natural, pois que o casamento é feito baseado num suposto romance, já que a maioria se casa porque ama, e não porque odeia. A menos que se unissem pessoas completamente antagônicas: pretas com brancas; feias com bonitas; pobres com ricas; cultas com incultas, honestas com desonestas, etc. Se assim fosse, haveria risco de virar tragédia, mas a natureza é sábia e nunca teve o hábito de unir pessoas com muitas diferenças entre si.
Dizem também que o casamento é uma loteria, onde poucos acertam. Ou ninguém. O prêmio costuma não sair para nenhum dos dois, mas também não acumula, porque o advogado acaba levando quase tudo.  Numa separação litigiosa, quem acaba levando vantagem é a mulher. E o advogado, claro! Então, já que é assim, não seria melhor se casar logo com o advogado? Não! O melhor ainda é se casar com a pessoa escolhida, tentar viver bem e ser feliz até a chegada da morte. Assim, o casamento é uma porcelana que necessita do cuidado de ambos para não quebrar. Um casamento mal feito é ruim, mas um casamento desfeito costuma ser bem pior. Prefiro continuar dizendo “enfim sós”, a passar a dizer “enfim só”. Eu, hein! Feliz enlace para todos!