sexta-feira, 15 de abril de 2011

O ACOLHIMENTO.

O acolhimento é uma atitude social e, sobretudo cristã, muito divulgada na sagrada Escritura pelo nosso Mestre Jesus. O acolhimento é um ato de caridade e misericórdia de quem o pratica. Acolher bem as pessoas é dever de todas as outras que estão em melhores ou diferentes condições de quem necessita do acolhimento. Tal ato não se restringe apenas em dar guarida, agasalho, comida, etc., em nossa casa a quem esteja necessitando imediatamente de bens desse tipo. Ele é muito mais amplo e abrange outras áreas do relacionamento humano, como por exemplo, uma mera atenção, uma simples palavra de apoio e de ânimo, um encaminhamento a um emprego, até uma pequena informação. É confortador estar num lugar estranho e ser alvo de atenção e gentileza.

Quando se fala em acolhimento, vem logo à nossa mente o estrangeiro e o forasteiro de um modo geral. São as pessoas que mais necessitam dele, uma vez que, conforme o próprio adjetivo diz, geralmente, estão fora de sua terra, longe de seus familiares e conhecidos. São, portanto, os seres humanos que necessitam de um acolhimento mais imediato. Neste caso, nossa cidade sempre primou por acolher bem os forasteiros que tiveram o destino de chegar até aqui. Na verdade, Arcos acolhe até bem demais, sem discriminação e sem seletividade, o que algumas vezes já trouxe embaraços à nossa comunidade, devido ao excesso de confiança e generosidade, bem como à maldade e leviandade de alguns acolhidos. Entretanto, o número de malfeitores é bem menor do que os outros.

 O povo de Arcos é muito bom, motivo pelo qual está sempre desarmado em relação a forasteiros. Sempre foi assim! Tanto os nativos, quanto os de fora radicados aqui. Quando a cidade estava tendo os primeiros impulsos de crescimento e recebendo muitos forasteiros, como está ocorrendo de novo, começaram a ocorrer estripulias praticadas por alguns forasteiros inconvenientes e passageiros, felizmente, que aqui chegavam. Lembro-me muito bem de algumas crianças que nasciam aqui, cujos pais, forasteiros, escafederam, bem como de alguns casais que se desentendiam por fraqueza da mulher, que preferia a novidade de fora, como ocorre em quase todas as cidades pequenas. Uns separaram; outros mudaram daqui e nunca mais voltaram.

Lembro-me também que o saudoso José Laranjeira era o Delegado de Polícia e tinha muito trabalho para conter alguns maus elementos, de fora, que vinham trabalhar aqui. A cadeia estava sempre cheia de bêbados e arruaceiros. Lembro-me ainda de um dia em que o controvertido delegado, armado de uma carabina, enfrentou um bando de arruaceiros de fora, lá na porta do hospital. E o tanto de golpes que alguns forasteiros aplicavam nos comerciantes de Arcos!? Os comerciantes abriam as pernas demais, quando atinavam de fechar, os gaiatos já tinham dado no pé. Ás vezes a gente daqui não conseguia comprar a prazo deles, e os de fora deitavam e rolavam. Eu mesmo me senti vingado uma vez, com um comerciante que não quis vender a prazo para meu pai.

Recentemente tivemos um exemplo aqui de acolhimento arriscado, que poderia até ter redundado numa tragédia, já que não temos condições de saber que tipo de pessoa estamos acolhendo. Pela cara não é fácil saber, pois atrás de uma fisionomia séria, sisuda, até feia, pode muito bem esconder um coração generoso e uma moral decente, garantia de um passado limpo. Ao passo que atrás de uma cara bonita, alegre, sorridente, pode estar escondendo um perigoso bandido. As aparências podem simular muitas nuances da índole do avaliado, o que pode nos levar a praticar atos injustos ou a não adotar atos justos devido a deduções erradas. Felizmente, no nosso exemplo tudo acabou bem, menos para os fugitivos, que voltaram para o local de onde fugiram.

Em sendo assim, e considerando a mudança das pessoas para pior, o que está fazendo os riscos aumentarem assustadoramente, temos que rever nossa posição quanto ao acolhimento de estranhos, para nos proteger de surpresa desagradável, senão trágica. A literatura, policial principalmente, está recheada de exemplos de pessoas que foram vítimas de violência porque tiveram o altruísmo de praticar o ato do acolhimento. Algumas podem até ter sido vítimas de sua própria esperteza, ganância ou de interesses mesquinhos, mas a maior parte age espontaneamente, movida pelo sentimento de compaixão ou de serventia.  Infelizmente, a realidade é esta e temos que conviver com ela. Hoje em dia, é muito temeroso até praticar atos de generosidade, uma vez que o perigo pode ficar bem perto de nossos olhos, até no seio da própria família. Só que a gente não consegue vê-lo a tempo.

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